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novembro 06, 2010

Dia de Finados: uma MISTUREBA de emoções........

Eis aí um tema que dá pano prá manga...
Dia de finados.
Morte... família.. saudade.. memória... esquecimento...raízes.. tradição... comércio... fé.. religiões.. reflexões.


Vamos ver por onde começo.


Não tenho religião, mas sou espiritualista.
Cresci vendo minha mãe ir ao cemitério no dia de finados levar flores... eu não acompanhava. Não tinha curiosidade. Deixe os 'mortos' quietos.


Já fui várias vezes a cemitérios ver enterros: desde amigo até o do meu próprio pai. Neste ano já fui 2 vezes, sendo o último do meu padrinho. Acho que já fui umas 7 vezes no total.


Sempre achei 'interessante' as pessoas irem homenagear seus artistas prediletos, ou personalidades. Sair de sua casa num feriado para ir ao cemitério levar flores para alguém que você não conheceu?! Que não era da sua família? Não. Na verdade achava isto doido, não interessante. Aliás, esta relação entre fãs e ídolos rende outra postagem......deve ter muita tese de doutorado em cima deste tema.


Voltando à vaca fria.....


Meu pai foi ex-combatente da 2ª Guerra e está 'repousando' no mausoléu dos pracinhas da FEB no São João Batista. Em agosto fomos, eu e mamãe, no enterro do meu padrinho, e passamos, após muitos anos, lá no mausoléu. Estava entregue, LITERALMENTE, às baratas! Completamente abandonado. Ficamos indignadas e minha mãe já botou pra ferver. Descobriu a pessoa responsável pela limpeza, marcou com ela, foi lá e botou a mão na massa também. No meio dessa história fizemos amizade com um ex-combatente figuraça, o 'Seu' Genival, 87 anos, arretado, lá de João Pessoa, e sua filha e genro.


Pois bem, minha mãe e o Genival, já completamente articulados, prepararam todo o esquema para o dia de finados: corôa de flores, soldados com roupa de gala, missa... e eu tinha que ir né.


Pela 1ª vez lá estava eu no feriado de finados, no cemitério, aqui no caso,  São João Batista, Botafogo.



E achei incrível!! Morri de raiva por não ter levado uma máquina fotográfica para registrar tudo o que os meus olhos viam....




O ser humano é realmente o ser das contradições.....


Tudo gera dinheiro neste mundo. A morte não fica atrás. É um comércio incrível... a quantidade de camelôs vendendo flores... até passar pelos portões gigantescos é uma luta... parecia  que eu estava na rua Uruguaiana nadando contra a corrente.. muita gente. Já fiquei mexida com isso. Me lembrei da passagem de Jesus expulsando os comerciantes dentro do templo....






Quando finalmente entrei achei tão bonito o que vi: quantos túmulos coloridos pelas flores mais lindas.. rosas.. palmas.. orquídeas..cravos.. um festival de cores.. vermelho.. várias tonalidades de rosa, amarelo, branco, lilás....no meio das esculturas, algumas tão lindas, verdadeiras obras de arte. A sobriedade dos anjos, das cruzes, junto à leveza e  perfume das flores.





E aí observei as pessoas... a mim mesma...e refleti. Tenho a tendência a olhar sempre para frente. Tenho péssima memória. Fiquei tocada ao ver as pessoas levarem flores.. lavarem os túmulos.. cuidarem dos seus antepassados.. manter a memória afetiva.. Embora eu ache que possamos homenagear as pessoas, inclusive os mortos, de várias maneiras, respeito profundamente isso tudo. Ao mesmo tempo não gosto do apego. Me lembrei do filme japonês ' A Partida'... lindo!!!... chorei horrores... fala, entre outras coisas, deste cuidado e respeito com os entes queridos que se foram.


Ao mesmo tempo não havia um clima pesado....  Missas de hora em hora ao ar livre... fui até a igreja lá no alto... lindinha. E lá de cima era mais legal ainda ver toda aquela vida dentro do templo da 'morte' (já me pergunto o que é vida e o que é morte)... pessoas indo e vindo.... um silêncio respeitoso.. gente pedindo esmola, e  as pessoas (entre elas eu) passando como se não houvesse ninguém ali no chão... como fazemos na rua... e pensei: não dou dinheiro porque? Porque não acredito que ele esteja realmente doente? Me sentí mal por pensar assim... ficamos frios.. duros... desconfiados. Ou será que sempre fomos assim? Ao entrar num cemitério e refletir sobre a morte, não deveríamos ficar mais sensibilizados..? Mais generosos..? Talvez por saber que tem muita gente que se aproveita deste momento de fragilidade, onde as emoções estão à flor da pele, para se aproveitar, mentir, se fingindo de doentes... aí passamos a não acreditar em mais ninguém. Mas por outro lado, cada um tem que arcar com seu livre arbítrio...


A contradição....


De repente, um helicóptero da prefeitura chegou e lançou lá do alto pétalas de rosas... foi lindo. Mas ao mesmo tempo pensei: sensação estranha receber pétalas de flores em cima da gente dentro de um cemitério.




Muita gente fotografando.... me deu uma raiva de mim mesma por não ter posto a máquina na bolsa.


Me lembrei: ' tem dias que a gente se sente, como quem partiu ou morreu...' (Chico Buarque)

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