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novembro 21, 2010

Hamilton de Holanda no Jardim Botânico: uma dupla perfeita!


 
Ontem, sábado, fui no Jardim Botânico... só isso já é uma delícia né.. ô lugar bonito... uma ilha paradisíaca aos pés do Cristo Redentor.. aliás, no Suvaco de Cristo....srrsr
um dos cartões postais mais lindos e visitados do Rio de Janeiro......e quanta gente não conhece!

o silêncio do concreto e a sinfonia da natureza, com seus pássaros.. esquilos.. macacos..o orquidário.. as bromélias.. os cactos.. as palmeiras imperiais.. o lago da vitória régia.. 

as cores ...várias tonalidades de verdes das árvores.. as flores..os perfumes.. o ar fresco..


.. o tempo parando.. como se a gente desse uma pausa no nosso controle remoto e lembrasse que existe vida além da neurose da cidade, do ar poluído, das buzinas ensurdecedoras, das ambulâncias, dos motores dos ônibus, da falta de gentileza generalizada, da pressa compulsiva (pra onde vamos desse jeito gente?), da intolerância e impaciência, 'do cada um por si e salve-se quem puder'... 
Eu não sei de vocês, mas eu sinto muuuuuita falta do contato com a natureza... é meu passado verde de ex-bióloga que não me larga...rsrsrs...



Então........ na verdade,dessa vez, eu fui ao Jardim Botânico, pedacinho do céu, para ver um show de um músico que sou fã: Hamilton de Holanda, bandolinista. A 1ª vez que vi esse cara, fiquei impressionada com sua força, com sua genialidade.. fiquei emocionada.. a mesma impressão que tive quando vi Yamandú Costa pela 1ª vez também!.. São músicos que estão além da fronteira do estilo, da língua, do metrônomo, das convenções. É quando você não vê o limite entre o  instrumento e o intérprete.. eles se fundem em um só corpo.. em uma só alma.. porque ao vê-los tocar a gente sente que eles tocam de corpo & alma.. e assim somos tocados e levados para outra dimensão... da beleza.
     Hamilton além de um virtuoso no bandolim, é compositor (como o Yamandú.. como o Nicolas Krassik que também sou fã). E pra esses caras, que além de intérpretes maravilhosos são  também excelentes compositores, a gente tem que tirar o chapéu. Bem, eu sou suspeita, porque adoro  música instrumental.....
     Mas voltando ao nosso pedacinho do céu.... imagina ouvir o Hamilton ao ar livre em pleno Jardim Botânico... sem palavras. Gente bonita.. muitas crianças.. até as tartarugas, que estavam pegando um solzinho de fim de tarde, me atrevo a dizer que estavam curtindo o som do Hamilton... tenho certeza! Basta olhar esta foto aí....rsrrs

Então me despeço com este link aí embaixo dele tocando Adiós Noniño, do Piazzolla (uma das minhas músicas preferidas) 

Para quem gosta de música instrumental de qualidade....


 

novembro 12, 2010

Pedro Sorongo, meu pai....




Pedro Sorongo... Pedro Santos... Pedro da Lua.... meu pai.

Ex-combatente da 2ª Guerra... carioca.. percussionista.. compositor.. inventor de instrumentos.. filósofo.. espiritualista.


Sou muito parecida com ele.. na aparência.. no jeito.. na maneira de ver e sentir o mundo. A criatividade.. a contemplatividade.. o talento artístico..a introspecção.. Até meu narigão...rsrrs


Não tive muito contato físico com ele. Como um músico típico ,  tinha um universo próprio.. era distante .. tinha dificuldades em lidar com as questões práticas do dia-a-dia (como eu...).. com o dinheiro.. era sem ambição.. para ele o que importava era ter espaço interno para criar. Sei como é isso...

O que teria sido dele sem minha mãe? Minha mãe foi, e é, a fortaleza.. a guerreira.. a companheira, o esteio. Sempre o motivou a continuar nesta árdua escolha: viver de sua arte. Meu pai sofreu no meio.. largou emprego em TV.. isto foi no auge de seu despertar espiritual.. e minha mãe ao seu lado.. trabalhando fora.. e em casa, fazendo baquetas e bolsas para instrumentos para vender.

Apaixonado por futebol, não tinha time, via qualquer jogo..adorava ir no Maracanã ! Também né....., ele pegou o auge do futebol arte: Garrincha, Pelé, Rivelino... (nisso não tenho nada a ver com ele, só torço para o Brasil, e olhe lá!).


Gostava de ficar em casa (como eu)... pesquisando seus sons.. inventando seus instrumentos.. fazendo suas colagens.. arrumando o quintal.

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Adorava cinema (como eu)... desde moleque, época que havia música ao vivo pros filmes mudos.. os cinemas da Cinelândia... lindos... muitos.

Fã de Chaplin.. o Gordo e o Magro.. Buster Keaton.. (como eu..). E eu que acabei virando palhaça..rsrrsrs






Meu pai era muito bem humorado. Piadista. Debochado.


Embora distante fisicamente.. tínhamos muita afinidade.

Mas eu era muito ausente.. não curtia o som dele.. imagina, ou eu ouvia música clássica quando criança, ou pop depois de 'aborrescente'. Música instrumental? Jamais. Hoje adoro! Música com temática espiritual?? Gente, eu só pensava quando iria aparecer meu 'príncipe encantado'! Tá, já aprendi que são todos sapos e que nós mulheres não somos a Cinderela.


Olha os nomes que circundavam minha infância e adolescência,  e rodavam no caderninho de telefones do meu pai: Sebastião Tapajós.. Waldir Azevedo..Baden Powell.. Paulo Moura.. Paulo Cezar Pinheiro.. Dino 7 cordas.. Pachequinho.. Radamés Gnattali.. Jorjinho do Pandeiro.. Raphael Rabello.. Leo Gandelman..


Mas sei que ele 'se foi' sem eu o ter compreendido... fico triste com isso.


Me lembro quando estava fazendo vestibular para biologia.. ele chegou, como quem não quer nada, e falou: 'eu sei que não devo me meter na sua vida... mas você sabe que leva muito jeito pra música.' Estudava piano desde criança... Bem, fiz a faculdade de biologia. Ele foi na minha formatura, e 2 meses depois estava eu no São João Batista me despedindo dele ...
Um ano depois entrava para UNIRIO........ para fazer música.

Agora, depois de muito fugir deste tema, o meu pai, e toda sua memória, minha memória, criei um blog para ele... na verdade praticamente um site! Com fotos de seus instrumentos, áudio de suas músicas... e posso dizer que estou muito feliz. Feliz por organizar, conhecer, pesquisar, descobrir, reconhecer, valorizar.. é um religare.. com minhas origens.. minha família.. minhas influências.


Hoje ouço suas músicas e compreendo. Mais do que isto, gosto muito! Descobri que ele tem fãs por todo o mundo. Que sua obra é cult. Me sinto orgulhosa de ser sua filha e herdeira..


Pois é, tudo tem o seu tempo..


Também sei que tenho muito trabalho pela frente. Que novos e bons ventos me levem...


".... você é você pra onde for,  com tudo que junta, com tudo que tem, com tudo que faz..." 
( Pedro Sorongo da música 'Quem sou eu?' )

novembro 06, 2010

Dia de Finados: uma MISTUREBA de emoções........

Eis aí um tema que dá pano prá manga...
Dia de finados.
Morte... família.. saudade.. memória... esquecimento...raízes.. tradição... comércio... fé.. religiões.. reflexões.


Vamos ver por onde começo.


Não tenho religião, mas sou espiritualista.
Cresci vendo minha mãe ir ao cemitério no dia de finados levar flores... eu não acompanhava. Não tinha curiosidade. Deixe os 'mortos' quietos.


Já fui várias vezes a cemitérios ver enterros: desde amigo até o do meu próprio pai. Neste ano já fui 2 vezes, sendo o último do meu padrinho. Acho que já fui umas 7 vezes no total.


Sempre achei 'interessante' as pessoas irem homenagear seus artistas prediletos, ou personalidades. Sair de sua casa num feriado para ir ao cemitério levar flores para alguém que você não conheceu?! Que não era da sua família? Não. Na verdade achava isto doido, não interessante. Aliás, esta relação entre fãs e ídolos rende outra postagem......deve ter muita tese de doutorado em cima deste tema.


Voltando à vaca fria.....


Meu pai foi ex-combatente da 2ª Guerra e está 'repousando' no mausoléu dos pracinhas da FEB no São João Batista. Em agosto fomos, eu e mamãe, no enterro do meu padrinho, e passamos, após muitos anos, lá no mausoléu. Estava entregue, LITERALMENTE, às baratas! Completamente abandonado. Ficamos indignadas e minha mãe já botou pra ferver. Descobriu a pessoa responsável pela limpeza, marcou com ela, foi lá e botou a mão na massa também. No meio dessa história fizemos amizade com um ex-combatente figuraça, o 'Seu' Genival, 87 anos, arretado, lá de João Pessoa, e sua filha e genro.


Pois bem, minha mãe e o Genival, já completamente articulados, prepararam todo o esquema para o dia de finados: corôa de flores, soldados com roupa de gala, missa... e eu tinha que ir né.


Pela 1ª vez lá estava eu no feriado de finados, no cemitério, aqui no caso,  São João Batista, Botafogo.



E achei incrível!! Morri de raiva por não ter levado uma máquina fotográfica para registrar tudo o que os meus olhos viam....




O ser humano é realmente o ser das contradições.....


Tudo gera dinheiro neste mundo. A morte não fica atrás. É um comércio incrível... a quantidade de camelôs vendendo flores... até passar pelos portões gigantescos é uma luta... parecia  que eu estava na rua Uruguaiana nadando contra a corrente.. muita gente. Já fiquei mexida com isso. Me lembrei da passagem de Jesus expulsando os comerciantes dentro do templo....






Quando finalmente entrei achei tão bonito o que vi: quantos túmulos coloridos pelas flores mais lindas.. rosas.. palmas.. orquídeas..cravos.. um festival de cores.. vermelho.. várias tonalidades de rosa, amarelo, branco, lilás....no meio das esculturas, algumas tão lindas, verdadeiras obras de arte. A sobriedade dos anjos, das cruzes, junto à leveza e  perfume das flores.





E aí observei as pessoas... a mim mesma...e refleti. Tenho a tendência a olhar sempre para frente. Tenho péssima memória. Fiquei tocada ao ver as pessoas levarem flores.. lavarem os túmulos.. cuidarem dos seus antepassados.. manter a memória afetiva.. Embora eu ache que possamos homenagear as pessoas, inclusive os mortos, de várias maneiras, respeito profundamente isso tudo. Ao mesmo tempo não gosto do apego. Me lembrei do filme japonês ' A Partida'... lindo!!!... chorei horrores... fala, entre outras coisas, deste cuidado e respeito com os entes queridos que se foram.


Ao mesmo tempo não havia um clima pesado....  Missas de hora em hora ao ar livre... fui até a igreja lá no alto... lindinha. E lá de cima era mais legal ainda ver toda aquela vida dentro do templo da 'morte' (já me pergunto o que é vida e o que é morte)... pessoas indo e vindo.... um silêncio respeitoso.. gente pedindo esmola, e  as pessoas (entre elas eu) passando como se não houvesse ninguém ali no chão... como fazemos na rua... e pensei: não dou dinheiro porque? Porque não acredito que ele esteja realmente doente? Me sentí mal por pensar assim... ficamos frios.. duros... desconfiados. Ou será que sempre fomos assim? Ao entrar num cemitério e refletir sobre a morte, não deveríamos ficar mais sensibilizados..? Mais generosos..? Talvez por saber que tem muita gente que se aproveita deste momento de fragilidade, onde as emoções estão à flor da pele, para se aproveitar, mentir, se fingindo de doentes... aí passamos a não acreditar em mais ninguém. Mas por outro lado, cada um tem que arcar com seu livre arbítrio...


A contradição....


De repente, um helicóptero da prefeitura chegou e lançou lá do alto pétalas de rosas... foi lindo. Mas ao mesmo tempo pensei: sensação estranha receber pétalas de flores em cima da gente dentro de um cemitério.




Muita gente fotografando.... me deu uma raiva de mim mesma por não ter posto a máquina na bolsa.


Me lembrei: ' tem dias que a gente se sente, como quem partiu ou morreu...' (Chico Buarque)